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BUSINESS F.C.

santa

Domingo passado a televisão foi obrigada a transmitir um jogo da Série C do Campeonato Brasileiro. É verdade que era uma decisão, e quem ganhasse já estaria na Série B. Mas não era a decisão que fazia do jogo algo especial. Era o que acontecia fora dele, ao lado dele, em volta dele. Sessenta mil torcedores se aglomeravam dentro do estádio, um velho estádio, que na opinião dos militantes do Business F.C. certamente já deveria ter sido demolido faz tempo.

Só que ninguém reclamava das inconfortáveis instalações do glorioso Arruda, do Recife. Ao contrário, havia alegria delirante, que atingiu até os narradores do jogo, atônitos com a impressionante concentração de massa diante de seus olhos. Um dos narradores chegou mesmo a mencionar, com razão, que parecia um jogo do passado, dentro daquele estádio de linhas arquitetônicas antiquadas, relíquia de um tempo em que estádios eram feitos para abrigar qualquer torcedor e não certos torcedores.

Abrigar talvez seja um termo não adequado. Estádio não era feito para abrigar, mas para caber. Quem ia ao estádio sabia que poderia ter que se sentar no concreto com o risco de ficar um pouco espremido, debaixo de sol, chuva ou frio. Mas ninguém se importava. Como não se importavam domingo os sessenta mil alucinados torcedores do Santa Cruz. Esse jogo e essa torcida vieram provar muita coisa.

O verdadeiro torcedor de futebol, que fez a grandeza do futebol brasileiro, não desapareceu. Lá estavam eles, alegres, fanáticos, jovens e velhos, homens e mulheres, elas inclusive, as belas mulheres do Recife, todos com os olhos no campo e provavelmente sentados no cimento duro. Ninguém se preocupava com outra coisa senão com o desempenho do seu time. Sua alegria vinha do gramado, não de outro lugar. Foi comovente e consolador ver as jovens gerações se comportando como as velhas, no mesmo desprendimento, no mesmo desprezo por condições especiais de acomodação.

Estádio foi feito mesmo pra sofrer, se angustiar, e entrar em êxtase, talvez tudo junto. A torcida do Santa Cruz se colocou ao contrário de tudo que existe por aí em termos de novas arenas. Fala-se que essas arenas darão mais conforto, comodidade, espaço, aos torcedores. Quem precisa de tudo isso?

Não os torcedores do Santa Cruz, como constatei domingo. A verdade é que essas arenas estão sendo feitas para outros torcedores que pagarão “o preço de mercado” pelos ingressos. O que é esse preço? O maior possível, evidentemente.

Numa metrópole brasileira sempre existirão quarenta, quarenta e cinco mil pessoas, por exemplo, que pagarão sem pestanejar os preços de mercado. Mas serão torcedores diferentes. Velhotes gordinhos, sisudos, que precisam de espaço para seus corpinhos, que precisam de estacionamento para seus 4X4, que precisam se abrigar do frio e do sereno. Que vão reproduzir nos estádios, acomodados em seus belos “camarotes”, a reclusão que vivem atrás das grades pontiagudas de seus belos edifícios, cercados de guardas por todos os lados.

Futebol é coisa de jovens. De velhos também, mas como os velhos que foram domingo no Arruda. Que choravam copiosamente com a vitória e o regresso triunfal do Santa. Você imaginaria um executivo, sem um pingo de suor no rosto, sentado num lugar especial, uisquinho na mão, chorando? O espetáculo no Arruda me mostrou que existe um Brasil que continua o mesmo, felizmente. Não vai mais aparecer muito na TV é certo, mas, quando menos se espera, lá está ele.

Também é muito possível que já se pense em transformar o Arruda numa arena igualzinha às outras. Talvez, mas não me interessa. Me interessa o que vi domingo passado. Por isso que agradeço ao Santa Cruz e á sua torcida o espetáculo que deram. E aproveito para declarar que conquistaram um fanático torcedor, infelizmente de longe, aqui de São Paulo, mas sonhando com o Arruda. Viva o Santa!

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,business-fc-,1095077,0.htm

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CAMPEÕES INVISÍVEIS

taça

 

Texto retirado daqui: http://www.apublica.org/2013/09/saga-da-selecao-esquecida-copa-do-mundo-homeless-futebol-social-brasil/

Por Ciro Barros e Giulia Afiune

Conheça a seleção das periferias brasileiras que, sem recursos nem aplausos, conquistou o título da Homeless World Cup de 2013

Acostumado a ser Golias nos torneios de futebol internacional, o Brasil viveu seu dia de Davi. E não faz muito tempo não. No último dia 18, quatro jovens brasileiros conquistaram a Homeless World Cup, a Copa do Mundo dos Sem Teto, campeonato de futebol criado há dez anos para denunciar as precárias condições de moradia que afetam um grande número de pessoas no mundo.  O primeiro torneio, em 2003, reuniu moradores de rua de diversos países na cidade de Graz, na Áustria. O mais recente, que deu a vitória aos brasileiros reuniu equipes de 50 países em Poznan, na Polônia.

Hoje o torneio engloba também pessoas que vivem em “situação de risco”  por  morarem em áreas violentas, em habitações precárias, em áreas sem acesso a infraestrutura básica, condição em que se encaixam boa parte dos moradores das periferias das grandes cidades brasileiras.

O jogo é dividido em dois tempos de sete minutos e as equipes se organizam como no futebol de rua: três jogadores na linha e um no gol. Vale até aquela clássica tabela com a parede, usada pra ajudar a driblar os adversários em campinhos e quadras no Brasil. Naquele dia 18 de agosto, estavam na linha Darlan Martins, morador do Cantagalo (Rio), Douglas Batista, do Jardim Ângela (São Paulo) e Robson Martins, do Campo Limpo (São Paulo); Vinícius Araújo, da Rocinha (Rio) estava no gol.

Por falta de recursos, o “país do futebol” mandou a menor delegação entre os 59 países participantes: além dos quatro atletas, viajou o técnico Flávio “Pupo” Fernandes, professor de Educação Física. Guilherme Araújo, da ONG Futebol Social, responsável pela montagem da equipe, explica: “A gente já vinha trabalhando com o mesmo patrocinador desde 2011, o patrocínio para esse ano era algo quase que automático. Como o patrocinador nos apoia mediante a Lei de Incentivo ao Esporte, o projeto foi submetido ao Ministério do Esporte, mas não foi aprovado a tempo”, conta.

O patrocinador em questão é a Eletrobras, empresa estatal de energia elétrica, e como era considerado certo, a ONG já se mexia para conseguir os aportes para o ano, quando veio a notícia de que a verba não viria. “A informação que a gente teve era de que faltava uma carta de intenção de patrocínio. Esse nosso patrocinador, uma estatal, não faz esse tipo de carta. E a empresa está passando por uma grande reestruturação, passando por sua maior crise da história, então era inviável”, resume.

Diversos patrocinados sofreram cortes com crise da Eletrobrás, que chegou a registrar a maior queda de suas ações em quinze anos – 15% – em novembro do ano passado. O aporte dado à Confederação Brasileira de Basquete (CBB), por exemplo, caiu 42%: passando de R$ 13 milhões em 2012 para R$ 7,5 milhões em 2013.

Já a delegação mexicana, que disputou a final com o Brasil, levou 45 pessoas à Polônia: além de 20 atletas, incluindo a comissão técnica, 25 pessoas foram como convidadas da Fundação Telmex, braço social da Telmex, gigante do ramo das telecomunicações que atua em países como a Argentina, o Chile, a Colômbia, os Estados Unidos, o Equador, a República Dominicana, e até mesmo no Brasil, como controladora  da Claro, uma das quatro gigantes de telecomunicação brasileiras. O dono da Telmex, o bilionário mexicano Carlos Slim Helu, foi eleito o homem mais rico do mundo pelo quarto ano seguido no ranking da revista Forbes. Sua fortuna é estimada em nada menos do que R$ 73 bilhões, R$ 6 bilhões à frente do segundo colocado Bill Gates.

“O dinheiro com o qual eles mandaram essas 45 pessoas é o dinheiro que a gente consegue manter todo o nosso projeto durante um ano”, compara o técnico Pupo Fernandes.

Ainda assim, em uma final suada, os quatro atletas brasileiros venceram os mexicano.s Na disputa dos pênaltis que se seguiu ao empate de 3 a 3, o goleiro brasileiro defendeu a primeira bola e Darlan Martins, eleito o melhor jogador do torneio, marcou o gol que deu o título ao Brasil. Após disputar dez partidas consecutivas, sem banco de reservas, sem verba, sem apoio, o time voltou com o caneco, mostrando a raça das periferias brasileiras.

MUITO ALÉM DO GRAMADO

A reportagem da Pública encontrou Douglas Batista e Robson Martins, os dois paulistas da equipe campeã do Homeless World Cup, na sede do Estrela Nova, clube comunitário do Campo Limpo que integra a rede de entidades parceiras da ONG Futebol Social, que utiliza o esporte como meio de formação de jovens líderes comunitários, de idades entre 16 e 20 anos.

Para fazer parte do time, não basta ser bom de bola, os avaliadores selecionam também pelos vínculos que mantêm com a comunidade, pelo engajamento social para transformar a comunidade e pela situação de risco em que se encontram.

Robson tem o perfil da vítima de violência nas periferias brasileiras. Ele é negro, tem 18 anos e está desempregado há seis meses. De acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, no ano de 2011, 59.198 pessoas foram assassinadas no Brasil. Deste total, 35,2% (18.387) eram afrodescendentes de idades entre 15 e 29 anos.

Ele trabalha desde os 16 anos para ajudar a mãe, que sustenta a casa sozinha com o salário de metalúrgica. Antes de deixar o emprego em uma empresa de instalação de portões, ele trabalhava numa serralheria. Em nenhum momento, porém, pensou em largar o futebol. “É a minha vida, é o que eu mais gosto de fazer, quero ser jogador desde os meus cinco anos de idade”, conta, emocionado.

Morador do bairro Maria Virgínia, no coração do Campo Limpo, Robson é obcecado pelo sonho de jogar futebol profissionalmente desde que começou a assistir os jogos do Corinthians, seu time do coração. Na comunidade, não encontrava áreas de lazer para afiar seus dribles, chutes, passes e lançamentos, e até os 16 anos, frequentava escolinhas de futebol onde conheceu dezenas de garotos que, como ele, amavam a bola e depositavam ali suas esperanças de melhorar a própria vida e a dos familiares. O tempo foi passando, porém, sem que ele obtivesse a esperada vaga numa equipe de base de um clube profissional.

“Peneira eu já fiz muitas. Inclusive já passei, mas os caras só fazem promessas. Eu passei umas vezes, os caras falaram que iam me levar para um clube, mas nunca levaram”, diz.

A maior decepção com o futebol aconteceu perto da sua casa, no CDC (Clube da Comunidade) do Sapy, ali no Campo Limpo, ele conta. Ao saber que o Internacional, gigante colorado do Rio Grande do Sul, iria fazer uma peneira ali, Robson acordou cedo, e nas primeiras horas da manhã já estava esperando pelo ínicio da triagem.

“Naquele dia eu joguei bem”, conta, “eu tinha passado, já tava treinando entre os escolhidos, e aí chegou um menino não sei de onde, com pai e empresário e tudo. E tiraram eu pra colocar o menino. Aí, no final do treino me disseram que eu não precisava mais treinar, que estava dispensado”, conta.

No mundo do futebol, apesar de muito jovem, Robson já é um veterano. Neymar, por exemplo, entrou para as categorias de base do Santos aos 11 anos e estreou como profissional aos 17 anos. Ainda assim ele continua a treinar sozinho em suas tardes no CDC do Sapy, sem perder a esperança. “Eu corro, faço uns trotes, chuto a bola na parede. Estou sempre me preparando para quando aparecer a oportunidade. Com força, esperança e foco vai acontecer”, acredita.

Se nos próximos dois anos ele não conseguir uma colocação no futebol, porém, Robson sabe o que o aguarda: emprego, oito horas de trabalho por dia, marmita à tiracolo. O cronômetro está rolando.

“No país do futebol, com 5 Copas do Mundo, você vê milhões de reais sendo investidos em estádios, no time, na seleção e você não tem ninguém, nenhum empresário nem patrocinador para investir em nós”, reclama o outro campeão mundial, Douglas Martins, morador do Jardim Ângela, também na zona sul da capital paulista. Como Robson, ele sempre quis ser jogador de futebol. Apoiado pelo pai, marceneiro, e pela mãe, recepcionista de cabeleireiro, ele passou por oito clubes, na tentativa de entrar em uma equipe de base, entre eles o Brasil de Pelotas, o Paulista de Jundiaí e até o São Paulo.

A pior experiência para Douglas foi no Mogi das Cruzes, quando ele tinha 18 anos. “Eu comia só arroz e dormia no chão sujo, em um colchãozinho que quase não era colchão. Durante duas semanas foi tanto perrengue que eu pensava ‘será que é isso mesmo que eu quero da minha vida?’. Aí a sua mãe te liga, te pergunta como que tá e você tem que mentir, né? Porque se não ela ia querer me buscar. E como eu quero esse sonho, resisti até onde eu pude.”

Após ser dispensado do Brasil de Pelotas, com 19 anos, Douglas desistiu e foi trabalhar na marcenaria do pai, mas não se sentia feliz: queria voltar ao futebol, que continua sendo o seu principal projeto. “Meu plano B é estudar, fazer uma faculdade. O Ensino Médio eu já completei. E, se não der certo no futebol, tentar seguir outra vida”, diz.

FUTEBOL SOCIAL VS. COPA DO MUNDO

Impulsionar jovens a fazer carreira no futebol, porém, não é o objetivo central da ONG Futebol Social, responsável pela montagem da equipe brasileira para a Homeless World Cup, criada por Guilherme Araújo após uma experiência dele na revista Ocas, publicação vendida por pessoas em situação de rua como oportunidade para que voltem a exercer um trabalho remunerado.

“O projeto nasceu dentro da Ocas, cresceu dentro da Ocas e no fim de 2009 a gente fundou uma nova ONG”, conta Araújo. A Ocas havia sido convidada a representar o Brasil na “Homeless World Cup”, mandando um time de moradores de rua. “Eu treinei o time e tivemos dificuldades, porque muitos nunca tinham praticado um esporte, uma atividade física”, conta o técnico Pupo Fernandes.

Da experiência veio a ideia de usar o futebol como um agente de transformação social através de um projeto desenvolvido por uma rede de entidades parceiras como o Clube da Turma e o Estrela Nova, no extremo sul de São Paulo, e o Criança Esperança do Rio de Janeiro. A ONG Futebol Social também está presente em Minas Gerais, em Brasília e no Pará.

“Temos a meta de chegar a todas as regiões do Brasil, mas ainda estamos buscando recursos para isso”, conta Pupo Fernandes. “Nesse momento vemos que a mídia e os patrocinadores focam muito mais a Copa do Mundo do projetos como o nosso. Por exemplo, um patrocinador prefere pegar R$ 100 mil e fazer mil bolas associando-se à Copa do que destinar a um projeto como o nosso”, avalia.

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SORTE DE REBAIXADO

juvenal

Os deuses do futebol não perdoam certas coisas. Parece que eles apenas esperam uma mistura específica de elementos para começar a passar a perna no time. Essa tal mistura compreende confusão política, jogadores sem confiança e nem sempre bons de bola, torcida cobrando e comissão técnica perdida. O boicotado do momento é o São Paulo.

Na minha opinião, o São Paulo não tem time pra cair, mas a realidade está aí para quem quiser contrariar. O fato é que o clube parou no tempo, deu mais atenção a rivalidades políticas internas e externas do que ao time dentro do campo. O autodenominado Soberano se achou assim mesmo quando começou a escorregar para dentro das mãos de Juvenal Juvêncio.

Este senhor trabalhou muito bem lá dentro, mas agora mais atrapalha do que ajuda. Como diretor de futebol montou o time campeão da Libertadores e do Mundial em 2005, para no ano seguinte ser eleito presidente e conquistar três brasileiros consecutivos, além da Sulamericana do ano passado. Ele colocou um ponto final numa fase “pipoqueira” do time, que não ganhava mata-mata nenhum e até a torcida comparecia de amarelo.

Colocado num pedestal pelo presidente que, ao que parece, se acha acima de outros mesmo, o time se perdeu. O presidente que confunde tirar sarro com preconceito começou a se perder ao demitir Muricy Ramalho. Continuou se perdendo ao demitir Ricardo Gomes. Daí para frente meteu o pé na lama mesmo. Você vê que o barco tá afundando quando o Emerson Leão é contratado. Ao recorrer ao mais antiquado dos técnicos do Brasil a coisa tá feia.

Já começaram as matérias relativas ao número de pontos do São Paulo atual com o Palmeiras de 2002 e 2012 e o Corinthians de 2007. Daqui a pouco começam as matérias dizendo que o rebaixamento não ocorre no próprio campeonato, mas de um conjunto de fatores acumulados nos anos e é isso que estou tentando dizer.

No Palmeiras destes anos, tinham alguns jogadores razoáveis como Zinho e Arce em 2002 e Barcos e Marcos Assunção em 2012. No Corinthians de 2007 é mais difícil dizer, mas tinha um veterano Vampeta, Felipe no gol e Finazzi, que por pior que fosse sabia fazer gols. O São Paulo de 2013 tem Ganso, Luis Fabiano e o mais que veterano Rogério Ceni. O que isso prova? Que 3 ou 4 jogadores bons no elenco não salvam nada.

Paulo Autuori já foi um bom técnico. Foi campeão brasileiro com o Botafogo em 1995, campeão mineiro e da Libertadores em 1997 com o Cruzeiro. O São Paulo de 2005 caiu no colo dele depois de uma montagem de elenco excelente do Cuca e posteriormente, vejam só vocês, um bom trabalho do Leão, que prevendo sua habitual decadência no cargo teve que largar o time no meio do caminho porque já tinha assinado com um time sei lá de onde. Enfim, atualmente Autuori passou de médio para fraco e seu retrospecto prova isso.

A primeira fase para ser rebaixado já está concluída pelo São Paulo: presidente vencedor e ditador, brigas na diretoria e no elenco que acabam afastando um ou outro jogador e demitindo o técnico de então. É contratado um técnico médio, com algum nome.

Segunda fase: diante da incapacidade do time de reagir faz-se uma segunda limpa, demitindo este técnico, apostando em qualquer um pelo desespero, e mais alguns jogadores são descartados. Esta peneirada nos protagonistas do campo faz com que o time tenha uma cara de aguerrido, valente sem talento (Aloísio provavelmente será o símbolo dessa fase), que até vale num primeiro momento, mas que é feito de forma tardia e acaba não adiantando. O São Paulo ainda não caiu. Tá encaminhado, mas não caiu, ainda.

As coincidências com os grandes da capital e times de outros estados que caíram é gritante. Achar que está cedo para se desesperar faz parte também da mistura do rebaixamento. Vamos ver então se o J.J. desce do seu pedestal, deixa de se prestar ao papel ridículo que anda fazendo e mantém o São Paulo na primeira divisão.

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MAS O QUE DIZ A LEI GERAL DA COPA?

fifa brasil

O PAPEL ACEITA TUDO E O PAPEL HIGIÊNICO É O MAIOR EXEMPLO DISSO

– Velho dito juridiquês

 

O número da lei é 12.663/2012, mas pode chamar no Google de Lei Geral da Copa (que vamos chamar de LGC) que acha do mesmo jeito. Ela regula a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e, pasmem, a Jornada Mundial da Juventude 2013, que não sei muito bem o que é, sei apenas que não tem nada a ver com futebol e por causa dela o Papa Chicão nº 1 vai vir pra cá. Em todos os países que houve Copa houve Lei Geral, não é porque somos perseguidos que ela foi instituída aqui.

Em primeiro lugar devemos acabar com uma discussão bastante disseminada, que é de que esta lei é um regime de exceção no Brasil e que viola nossa soberania nacional. Na realidade, estas são duas questões diferentes, a excepcionalidade nada tem a ver com a soberania, sendo que apenas a primeira tem como se sustentar e, ainda assim, em termos. Se sustenta porque a LGC de fato muda vários procedimentos estabelecidos nas nossas leis, tais como os que regem o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), vistos de entrada e permissão de trabalho, Estatuto do Torcedor, Código Penal, Código Civil, Código de Processo Civil, enfim, uma aberração que coloca o Brasil de joelhos para se submeter ao que a FIFA quer. Em termos porque está sancionada como lei, o que afasta a exceção levando em conta o termo específico.

Por outro lado, não existe nenhum arranhão na soberania nacional ao aceitar semelhante imbecilidade, pelo contrário. A soberania nacional se refere a que nosso Estado não está submetido a nenhum outro agente externo, é a capacidade de as ordens instituídas por ele mesmo prevalecerem e a LGC passou por todos os trâmites legais para que virasse uma lei. Ela é passageira, vale apenas para estas épocas de invasão da FIFA nas nossas vidas, mas mesmo assim é uma lei, ou seja, este bando de estrume que frequenta nosso Congresso Nacional aprovou tudinho, tá tudo redondo, nos conformes da lei.

Então a FIFA não chegou aqui e simplesmente instituiu uma lei sozinha, ela teve o respaldo dos nossos ditos representantes e isso, por incrível que pareça, é um exercício de nossa soberania e não uma negação a ela. A questão seria muito mais moral do que de legalidade. Mas vamos à lei em si.

O artigo 2º define vários termos que a FIFA usa e que aparecem na lei a todo o momento, tais como o que é uma Subsidiária FIFA (empresa aberta por ela mesma e que a representa aqui), Emissora Fonte da FIFA (Globo), CBF, Copa do Mundo, etc. Chove no molhado apenas para deixar claro o que é o que para ninguém ter brechas legais futuramente.

Existem dois incisos deste artigo que valem ser lembrados, que é o VI e o XIV. No primeiro é definido o que é considerado um Evento pela FIFA, e lá estão desde palestras, workshops, seminários, cerimônias de abertura até as partidas de futebol e treinos. Traduzindo: tudo que cheirar a futebol é da FIFA. Especial crédito para a alínea “e”, que diz que serão eventos oficiais, além destes já citados, “outras atividades consideradas relevantes…”. Consideradas por quem? Eis a questão.

No inciso XIV são definidos o que serão os Locais Oficiais de Competição. Meus amigos, um Local Oficial de Competição será: estádios, centros de treinamento, centros de mídia, centros de credenciamento, áreas de estacionamento, áreas para a transmissão de Partidas, áreas oficialmente designadas para atividades de lazer destinadas aos fãs, localizados ou não nas cidades que irão sediar as Competições, bem como qualquer local no qual o acesso seja restrito aos portadores de credenciais emitidas pela FIFA ou de Ingressos.

Pois é, cuidado que você pode estar neste momento em um Local Oficial de Competição. A FIFA define o nome do chão que você pisa, quiçá urina.

Simulação de como ficará o estádio do Corinthians. Local Oficial de Competição privado mas pago com dinheiro público.

Simulação de como ficará o estádio do Corinthians. Local Oficial de Competição privado mas pago com dinheiro público.

Indo mais à frente, nos artigos 3º ao 10º que tratam “Da Proteção Especial aos Direitos de Propriedade Industrial Relacionados aos Eventos”, temos o seguinte quadro:

Para registrar uma patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) qualquer mero mortal deve apresentar uma série de documentos, fazer pesquisas, pagar taxas e ainda esperar 5 anos para consegui-la. A FIFA está livre de todos estes “estorvos”. Para ela basta apresentar uma lista e deverá obter uma resposta praticamente imediata, além de não pagar nada.

O artigo 11 trata do tema que mais gerou discussões: áreas de restrição comercial. Veio daí a revolta de todo e qualquer ambulante do Brasil por não poder vender seus produtos nas imediações dos estádios. Só que é muito pior que isso.

O que este artigo autoriza a FIFA a fazer?

Autoriza, EXCLUSIVAMENTE, a divulgar marcas, distribuir, vender, dar publicidade ou realizar propaganda de produtos e serviços, bem como outras atividades promocionais ou de comércio de rua, nos Locais Oficiais de Competição, nas suas imediações e principais vias de acesso. Lembra dos famigerados Locais Oficiais de Competição? Pois então.

Qual é o limite desta bolha capitalista?

Perímetro máximo de 2 quilômetros dos Locais Oficiais de Competição. Olha eles aí de novo.

E quem já tem um estabelecimento dentro desta área?

Gentilmente, foi autorizada à pessoa que já tenha qualquer tipo de comércio nesta área que funcione regularmente, DESDE QUE sem qualquer forma de associação aos Eventos FIFA. Lembra dos Eventos FIFA?

Portanto, não é apenas no entorno dos estádios que as pessoas não poderão trabalhar, é de todos os Locais Oficiais de Competição.

Cachorro-quente vendido  dentro dos estádios, ruim e caro. Do lado de fora nada de comida de rua.

Cachorro-quente vendido dentro dos estádios, ruim e caro. Do lado de fora nada de comida de rua.

Tá com raiva da FIFA? Calma que vai piorar bastante.

Os artigos 12 ao 15 falam da titularidade de direitos sobre o evento, tempo de retransmissão e outras coisas, nada muito além do normal.

Já os artigos 16 ao 18 são uma piada na pior acepção da palavra. Eles tratam das sanções civis, ou seja, indenizações, dinheiro que deverá ir para a FIFA. Óbvio que a FIFA não ia apenas proibir as pessoas de trabalhar nos arredores dos Locais Oficiais de Competição. Ela resolveu instituir punições aos perigosos transgressores.

Para resumir, você não poderá fazer nenhum tipo de comércio e publicidade naquele raio de 2 quilômetros dos Locais Oficiais de Competição ou vincular algum produto ou serviço à Copa porque estará sujeito ao pagamento de uma indenização que englobaria o que a FIFA deixou de lucrar com a sua “intromissão” na área dela, mais qualquer lucro que você tenha tido, além de outros danos que possam ser identificados depois.

Isso aí é um pouco relativo não acham? Como estabelecer o valor desses “danos” da FIFA? Ela mesma definiu no artigo 17. Se não for possível saber quanto de dinheiro você recebeu ‘ilegalmente’ (a lei diz isso literalmente) ou quanto a FIFA deixou de lucrar, é tomado como base o valor que os autorizados por ela pagaram para poder fazer aquilo que você não pode.

Se você tem um bar que vai passar o jogo e você cobra ingresso por isso, esta é uma violação da lei e, seguindo tal lógica, vamos tomar como base quanto a Globo pagou para ter o direito de transmissão.

Se você ta lá vendendo cerveja do lado do estádio com o seu isopor você cometeu uma infração. Se não der pra te ferrar pelo método simples será levado em conta o que a Ambev (dona da Budweiser) pagou para poder ter a exclusividade na venda de cervejas.

Acho que deu pra entender né?! Não é piada, é sério isso mesmo.

No artigo seguinte, o 18, consta que os produtos apreendidos serão doados a instituições de caridade após a remoção dos símbolos oficiais da FIFA (o tatu lá, brasões, essas coisas). Porém, eles podem também ser destruídos. A solução entre a destruição e doação cabe a quem? Ela mesma, a FIFA. Tenho sérias dúvidas do que será escolhido, mas veremos.

Fuleco e Fuleiro, bichinhos da Copa

Fuleco e Fuleiro, bichinhos da Copa

Artigos 19 ao 21 falam de vistos pra entrada no Brasil e permissões de trabalho, nada muito digno de nota.

Nos artigos 22 ao 24 está escrito que o Estado brasileiro pagará indenização pelos danos que causar à FIFA. Até aí nada muito excepcional, você causa um dano a alguém, por mais que seja uma empresa privada arquimilionária, e deve pagar por isso. É o conformismo legalista.

O problema vem logo na sequência, quando é dito que O ESTADO BRASILEIRO RESPONDERÁ FINANCEIRAMENTE, TAMBÉM, PELOS DANOS QUE A FIFA CAUSAR. É isso mesmo. Se você sofrer algum dano em um local dito FIFA (que abrange milhões de coisas, como dito antes), quem paga é o Estado. E o Estado paga como? Com o nosso dinheiro amizade.

Injusto? Que nada. No artigo 24 diz que o Estado pode contratar seguro para a cobertura de riscos. Vai pagar um seguro com o nosso dinheiro para garantir a cobertura de indenizações geradas por erros da FIFA, fica tranquilo.

A venda de ingressos é regulada pelos artigos 25, 26 e 27. Lá fala que serão quatro categorias de ingresso, sendo que pelo menos 300.000 ingressos de categoria 4 (mais baratos) deverão ser comercializados na Copa.

Consta também que haverá meia-entrada para estudantes, idosos e participantes de programas de transferência de renda, e ainda que os indígenas e quem aderir à campanha de desarmamento, que será feita na época dos eventos, terão uma carga de ingressos destinada a eles. Além de não entender direito isso aí dos indígenas e portadores de arma, duvido que vá acontecer.

O artigo 28 fala das condições de acesso e permanência nos Locais Oficiais de Competição (olha eles de novo). Na realidade, este artigo é uma cópia do artigo 13-A do Estatuto do Torcedor (portanto nenhuma novidade para nós) com apenas duas disposições a mais. Uma delas diz o seguinte: é ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de manifestações e à plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa humana. Verdade?

http://www.youtube.com/watch?v=HKLrnhUhI8s

http://www.youtube.com/watch?v=zu7yenofjuE

Acho que não.

O 29 fala das campanhas sociais que vão ter.

Charge-Copa2014

Do 30 ao 36 estão as disposições penais. Preparados?

Piratear produtos FIFA (licenciados no INPI que citei dos artigos 3º ao 10º), aí incluídas todas as formas da cadeia de produção, como fazer, vender, distribuir, importar, etc. – detenção de 3 meses a 1 ano ou multa.

Vincular marca ou produto aos eventos FIFA fingindo ser autorizado por ela – detenção de 3 meses a 1 ano ou multa.

Expor qualquer marca/produto não autorizado pela FIFA nos locais dos Eventos (aqueles tratados no começo) – detenção de 3 meses a 1 ano ou multa.

(Veja aqui a diferença entre detenção e reclusão)

Todos estes crimes tem validade até 31 de dezembro de 2014. A discussão que isso gera, além da instituição de crimes que não existem no nosso ordenamento nestes termos específicos, é que uma pessoa poderá continuar a ser ré em uma ação penal mesmo passada a eficácia da lei. É você ser julgado e, talvez, condenado por um crime inexistente, é absurdo. Isso vai dar muito problema mais para frente.

Os artigos 37 ao 50 falam de prêmio em dinheiro e auxílio especial para os jogadores campeões em 58, 62 e 70. Além de uma possível necessidade dos jogadores destas épocas (fora a anta rica do Pelé), não se sabe o motivo disso estar na lei.

Chegamos à parte final da Lei Geral da Copa, os artigos 51 ao 71. No 51 aparece um tipo de intimação do Estado para responder ações que não existe em nossos códigos. No artigo 53 fica estabelecido que a FIFA é isenta de qualquer tipo de pagamento para que as ações em que ela esteja envolvida tenham andamento. Esse ponto é inacreditável e apenas demonstra que a FIFA espera que sejam muitas as ações em que estará no meio.

O artigo 55 diz que o governo poderá disponibilizar os serviços de telecomunicações necessários para que os Eventos FIFA (aqueles mesmos) ocorram, sendo que é dispensável a licitação para que tal serviço seja realizado. Uma forma institucionalizada de roubar mais um tanto.

No 56 é dito que pode ser declarado feriado nos dias de jogos da seleção. No 57 que os serviços voluntários na Copa não geram vínculo de emprego. No 63 é falado, finalmente, sobre a tal Jornada da Juventude, onde serão aplicados os mesmos termos de emissão de visto e ausência de vínculo de emprego pelo trabalho voluntário. No 64 fica estabelecido que os sistemas de ensino DEVERÃO ajustar os calendários para que as férias calhem com a Copa.

Eu deixei para falar do artigo 54 agora para o final. Nele fica claro um dos motivos de todo o quebra pau que vimos nos arredores dos estádios pelo Brasil. Lá está determinado que o Estado COLABORARÁ para que os Locais Oficiais de Competição (os tais locais sendo citados novamente) estejam disponíveis para uso EXCLUSIVO da FIFA. Entendeu agora? Claro que não vimos tanta incompetência governamental e violência policial apenas por este motivo – pois ambos são um lixo com ou sem FIFA -, mas que é um ponto a mais que reforça o caráter ditatorial da lei isso é.

Corruptos públicos e privados. O povo apanha enquanto eles lucram.

Corruptos públicos e privados. O povo apanha enquanto eles lucram.

A Lei Geral da Copa não traz qualquer benefício para nós, apenas obrigações. Já a FIFA não tem obrigação nenhuma, apenas benefícios. Porém, esta mesma FIFA não nos enfiou goela abaixo a Copa do Mundo e das Confederações. Ambas são um produto desta empresa e todos os países que se candidatam a sediar tais eventos já sabem que vão ter de se ajoelhar para ‘a dona do futebol’. Apenas a Colômbia não ajoelhou. Correr atrás para sediar uma Copa é uma escolha política, assim como investir bilhões em estádios e não em outras áreas. A FIFA impõe as diretrizes para que seus eventos sejam realizados e a forma de condução é do país sede. A FIFA tem milhões de motivos para ser xingada, mas sediar a Copa foi escolha dos nossos governantes.

Se as obras relacionadas à infraestrutura tivessem sido realizadas, haveria algo de palpável ao povo, mas não é o caso. Estes parasitas, que se reúnem em nome do Poder Legislativo e Executivo, acharam que nós engoliríamos, mais uma vez, histórias mirabolantes de “legado da Copa”, quando apenas roubariam nosso dinheiro tomando champanhe nos camarotes das Arenas Multiuso superfaturadas. Enganaram-se.

Nossa cultura torcedora está sendo aniquilada pela construção das tais Arenas. Pessoas são expulsas de suas casas por conta destas mesmas obras. Nosso dinheiro está sendo gasto na construção de estádios (alguns particulares). A FIFA vai arrombar nossa sociedade e irá embora muito mais rica. Os políticos continuarão rindo da nossa cara. A polícia continuará nos batendo. A Lei Geral da Copa é só mais um elemento que demonstra o descaso a que somos submetidos e que gerou a precarização dos sistemas político e social, culminando em uma revolta de nível nacional que explodiu no colo dos marajás, que agora correm nos três dias que trabalham na semana para tentar reverter o prejuízo. As ruas responderam o que achamos da lógica corrupta de nosso governo e já se ouve aqui e ali: NÃO VAI TER COPA!

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