Por Alex Mirk
O oba-oba dos gargantas do mundo da bola deu algumas estremecidas durante essa semana. Pena que às vésperas da Copa do Mundo é inconveniente e até anti patriótico, como diria José Marin Marin, fazer críticas à gestão do futebol brasileiro. Que relação pode existir entre as ameaças de morte que o atacante Eto’o diz ter sofrido pela Confederação Camaronesa de Futebol e a nossa CBF? E quais lições podemos tirar da interdição do estádio do Engenhão, erguido às pressas para o Pan-Americano do Rio, para a Copa de 2014?
Pra começar, vamos ao desde-sempre capenga e impopular estádio do Engenhão, oficialmente chamado João “Trambiqueiro” Havelange, interditado pela Prefeitura do Rio de Janeiro por risco de desabamento da sua cobertura. Eduardo Paes, que toca o bonde sem freio carioca, comentou o fato em entrevista de 8 minutos à TV Globo. Até houve certa tentativa do programa em colocar o prefeito contra a parede, mas ele saboneteou com a mesma solução que livrou a cara de Serra, governador de São Paulo quando as obras da linha amarela abriram uma cratera em Pinheiros em 2007, engolindo dezenas de imóveis e matando 7 pessoas: a culpa é do consórcio!
Apesar de um culpado ter surgido, a exemplo de Serra, o próprio Eduardo Paes explicou que o buraco é mais embaixo. A não ser que um milagre aconteça, a lambança da cobertura do Engenhão pode até ser de quem construiu, mas a responsabilidade será toda da prefeitura do Rio. E por que isso? Simplesmente porque na época da construção do estádio, o consórcio formado pelas construtoras Odebrecht e OAS aproveitou o abandono da obra para assumir o projeto às pressas, com a condição de que os riscos seriam exclusivamente da prefeitura do Rio de Janeiro. E assim surgia mais uma farra das empreiteiras, que podem fazer o que quiserem sem risco de serem responsabilizadas e terem suas imagens arranhadas. Afinal, está tudo no nome de um consórcio formado por empresas cujos nomes a imprensa costuma esquecer.
No caso do buraco aberto nas obras do metrô, até agora ninguém foi responsabilizados entre as empreiteiras do consócio Via Amarela – Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Assim será com o Engenhão, e claro, quem pagará o pato será o contribuinte, que cairá novamente no conto do titio Eduardo e esquecerá logo o assunto. Seria loucura imaginar que novos consórcios, conduzidos pelas mesmas corporações de sempre, vão deitar e rolar nas construções apressadas para a Copa do Mundo do ano que vem? Ou seria demência duvidar disso?
Agora o leitor se pergunta “mas que cazzo o Samuel Eto’o, referência dentro da área das jogadas do Ronaldinho Gaúcho na época do Barça e um dos maiores goleadores africanos de todos os tempos, tem a ver com a CBF?”. A verdade é que, objetivamente, não tem nenhuma ligação. Porém, proponho uma reflexão sobre o que está acontecendo em outra facção criminosa, digo, confederação de futebol e que pode ter paralelos no coronelismo de chuteiras brasileiro.
Em fevereiro, Eto’o contou a uma publicação camaronesa que dirigentes da Confederação de Futebol do país (FCF) queriam assassiná-lo. O motivo seria a campanha feita pelo atacante contra os “corruptos e incompetentes” cartolas camaroneses, que para ele deveriam renunciar imediatamente. Talvez a maior personalidade viva do país, Eto’o disse que não tem coragem de colocar as camisas da seleção que a federação dá, pede diretamente da Puma, patrocinadora da equipe, e que não faz refeições junto com companheiros da seleção para evitar que coloquem veneno na comida.
Se à primeira vista a atitude do jogador parece exagerada e esnobe, imagine-se sendo alguém que nada contra a corrente em um país destacado entre os líderes mundiais em corrupção, politicamente instável, que tem o mesmo presidente desde 82 e cuja renda per capita diária é de pouco mais de 1 dólar. Mesmo que o diretor de comunicação da CFC tenha razão em afirmar que o Eto’o vale mais vivo do que morto para eles, é difícil acreditar que o jogador tenha interesse em desestabilizar o país, como ele justificou.
Fazendo um paralelo com o Brasil, fico imaginando como seria a reação da CBF se o Romário ainda jogasse na seleção e já estivesse colocando o dedo na ferida dos poderosos. Imagino a Globo ignorando o baixinho na saída do gramado ou o Felipão inventando motivo médico na frente das câmeras para cortá-lo. Seria tragicamente hilário. Sorte dos caciques brasileiros que o craque da vez só pensa em pentear o cabelo e dar rolé de iate.